sábado, 26 de julho de 2014

OUTROS CONVÍVIOS

-NOTÍCIA-
Postamos três novos PE, dos últimos sábados publicados no CM.
JM
PONTO DE ENCONTRO
CORREIO DA MANHÃ
12JUL2014

PONTO DE ENCONTRO
CORREIO DA MANHÃ
19JUL2014

PONTO DE ENCONTRO
CORREIO DA MANHÃ
26JUL2014

terça-feira, 22 de julho de 2014

RUMO A UM CAIS EM LISBOA

-FARDA OU FARDO?-
Zarpámos do Funchal cerca de meia-noite. Passámos, portanto, a parte diurna desse dia na Ilha pois havíamos atracado logo de manhãzinha. Vejo o navio a começar a navegar com a proa apontada para um pouco antes do bico do monte frente à cidade. Fico assustado. Será que vamos bater ali? Questiono um tripulante perante o meu alarme. Ele, tranquilamente, respondeu-me: “É que o navio está apontado para ali mas, com a corrente, ele vai navegando de lado e iremos passar bastante para lá do morro”. Fiquei a saber naquela altura que, tal como nos aviões, que sofrem a influência dos ventos (mas aí eu tinha conhecimento), há também, na navegação marítima, uma diferença entre Rota e Rumo. Entrámos no alto-mar, azimute de Lisboa na bússola, com viagem prevista para cerca de 36 horas. Durmo tranquilo, ainda teríamos mais duas noites e um dia de navegação. Como de manhã estava um tempo ótimo, aproveito para me refastelar um pouco e gozar os últimos momentos do Vera Cruz.


A última noite foi passada em grande desassossego uma vez que, pela manhã desse dia 1 de julho de 1971, atingiríamos o Tejo. Mas, para nosso espanto, o navio parou no meio duma neblina cerradíssima, que nada víamos num raio de 20 metros. Soa o seu apito estridente e responde um outro mais fraquinho: era o da Lancha dos Pilotos. Estávamos junto ao Farol do Bugio, viemos depois a perceber quando o sol clareou, dissipado o nevoeiro. Sobe para bordo o Piloto do Porto da Barra de Lisboa … e o navio começa a subir o Tejo, devagarinho. Passa sob a Ponte, então chamada de Salazar, agora de 25 de Abril, e começa-se a vislumbrar uma multidão no Cais de Alcântara e não no da Rocha de Conde Óbidos, donde tínhamos partido em 1969, a acenar, com lenços, chapéus e tudo que dava para abanar. Acostámos, em manobra lenta e vagarosa, e alguma multidão entra em transe. Gritos de alegria vindos de fora, acenos feitos de dentro. Minutos especiais em que disciplina rígida tem que imperar, sob pena de perca do controlo da situação. A compreensível ânsia é grande mas tem haver rigor no critério de saída. Chega a minha vez. Desço o portaló e encontro logo de imediato, de Serviço de Prevenção de Enfermagem ao navio, o que viria a ser o meu cunhado António, mais tarde mobilizado para Moçambique. É o meu primeiro abraço. Rapidamente descubro os meus familiares e a minha namorada. Ficará perene na minha memória esse esperado momento do reencontro ansiado.

“Vamos embora, tenho ali o carro!”, diz o meu cunhado Amorim (já falecido). “Não posso. Temos que ir enquadrar o pessoal até ao R.I. 2, em Abrantes (nossa Unidade Mobilizadora) para fazer o chamado espólio do fardamento, tirar uma Radiografia Pulmonar e receber a Licença Registada por 30 dias e ainda aguardar pela bagagem de porão!”. Assim se procedeu, mas eles, os meus familiares, levaram o carro para Abrantes para me aguardar. Chegámos à Unidade, transportados em Camiões Militares desde a Estação de Abrantes, onde findou a sua marcha o Comboio Especial. Portanto, missão cumprida. Nós, Milicianos, não fizemos espólio. O fardamento era nosso, pago por nós, com dinheiro abonado pelo Exército mas descontado posteriormente no soldo.















É-me feita uma Radiografia Pulmonar e é-me entregue a Licença Registada por 30 dias, período durante o qual nos encontrávamos ainda no Ativo. Findo esse prazo, entraríamos na chamada Disponibilidade. Concluo logo que será melhor voltar ao RI 2 mais tarde para levantar a bagagem de porão. Entro no carro e, após umas horas de compreensível conversa emocionada, chego, finalmente, à minha rica cidade do Porto.

Adeus às Armas! Fim da Guerra! Mas será que foi mesmo o fim da Guerra? NÃO, NÃO FOI! Constatamos todos nós, Combatentes, isso, hoje. Ela somente hibernou … as nossas cabeças apenas entraram num período de nojo … Sim, porque a Guerra é mesmo um nojo!…

Carlos Jorge Mota

domingo, 13 de julho de 2014

OUTROS CONVÍVIOS

-NOTÍCIA-
Embora com algum atraso, postamos o PE do dia 5 do corrente mês, publicado pelo CM.
JM 
PONTO DE ENCONTRO
CORREIO DA MANHÃ
05JUL2014

quinta-feira, 3 de julho de 2014

OUTROS CONVÍVIOS

-NOTÍCIA-
Postamos a seguir os PE dos dias 21 e 28 do passado mês de Junho e publicados no CM.
JM
PONTO DE ENCONTRO
CORREIO DA MANHÃ
21JUN2014

PONTO DE ENCONTRO
CORREIO DA MANHÃ
28JUN2014

quarta-feira, 2 de julho de 2014

XLI - MUDANÇA DE RUMO... A POUCAS HORAS DE LISBOA

-FARDA OU FARDO?-
Zarpámos em plena noite, sem antes nos despedirmos, com uma olhadela curiosa, ainda de dia, ao navio Império, que tinha também acabado de levar tropas e que aguardava a saída do Vera Cruz a fim de acostar para início das operações de carregamento.

NAVIO IMPÉRIO
AS LUZES DO CAIS DE LUANDA,JÁ BEM LONGE









Embora cansados, conservámo-nos na amurada até deixarmos de ver totalmente Angola. E, com a linha do horizonte a evidenciar a curvatura do planeta, já em pleno alto-mar, era impossível dormir, com toda aquela azáfama. Bagagem de mão bem arrumada no Camarote, o Bar do navio era o poiso de toda a “maralha”, alguns começando a sua dose diária de bebedeira, reforçada ao momento por razões óbvias, ou por contentamento indisfarçável ou por confusão mental súbita fruto do balanceamento do que deixam e da nova e inesperada vida que vão encontrar … lá longe.

BELICHE NO CAMAROTE
RASTO DA VELOCIDADE DE 21 NÓS











Na segunda noite seguinte, 23, seria a famosa Noite de São João da minha cidade do Porto, que ainda não saborearia.

O Vera Cruz, tal como o Império, o Uíge, o Niassa, o Índia e o Pátria, penso que não me falha mais nenhum outro, eram navios que estavam fretados para transporte de tropas, portanto, tinham os seus porões adaptados com beliches feitos em madeira para acomodação das Praças. Tive que me deslocar lá uma vez, por razões de Serviço à Companhia, e verifiquei as condições paupérrimas em que o pessoal viajava, acrescida do facto perturbador da alta pressão atmosférica a que os corpos se sujeitavam, porquanto se encontravam abaixo da linha-de-água.

Como é normal nas viagens marítimas, são dadas instruções aos passageiros sobre o procedimento a adotar em caso de emergência, com a indicação da baleeira que lhes está destinada, e há sempre uma ou mais ocasiões, a decidir aleatoriamente pelo Comandante de Bandeira (neste caso, porque transportava tropas) ou pelo Comandante do Navio, para um exercício súbito e inesperado. As Praças, ao apito do navio para esse efeito, tinham mais dificuldade em chegar prontamente ao convés, não só pelo local onde se encontravam mas também pela sua maior quantidade. Havia que procurar controlar toda esta dificultosa situação, por razões do foro militar e de obrigação naval.

EXERCÍCIO PARA EMERGÊNCIA
NAVIO NO GOLFO DA GUINÉ











Uma bela tarde, em pleno Golfo da Guiné, vemos um navio mercante em rota de colisão com o nosso. Nada percebíamos de Leis Marítimas, mas fomos informados que aquele barco teria que dar passagem ao Vera Cruz e ser ele a desviar a sua rota, o que não fez. Não se conseguia vislumbrar vivalma e estivemos muito perto dele. Parece que viria em Piloto Automático, foi-me dito, depois, por um Oficial de Bordo. Óbvio que o piloto do nosso barco é que teve de guinar para a direita e fazer um círculo completo, retomando depois o rumo.

Passámos ao largo de São Tomé e Príncipe, da Guiné, depois Cabo Verde e seguíamos o nosso destino para Lisboa, quando nos chega a informação que aportaríamos primeiro ao Funchal. E Porquê? Exatamente porque tínhamos partido atrasados de Luanda decorrente das 12 horas gastas pelo Vera Cruz na sua paragem aquando da ida. É que o tempo é controlado ao máximo para efeito de articulação com outros fatores. Levávamos a bordo duas Companhias de Caçadores Independentes cuja Unidade Mobilizadora era um Quartel de Ponta Delgada. Estava previsto o seu desembarque em Lisboa e simultâneo transbordo para outro navio cujo percurso é a triangulação dos Arquipélagos da Madeira e dos Açores. A fim de se evitar o atraso de saída desse barco o Vera Cruz foi descarregar essas Companhias ao Funchal que ficaram a aguardar a chegada do tal outro para posterior embarque para o seu efetivo destino. Esta alteração proporcionou-nos a oportunidade de conhecer a Ilha da Madeira, pois tivemos autorização de saída. Em grupos, alugámos um carro e percorremos aquela maravilhosa Pérola do Atlântico, como a cantava o grande Max.










(acentuando o último a). Exactement comme l’Algerie!”, talvez lembrando-se da Guerra da Argélia. Teria sido ele também Combatente? 

Carlos Jorge Mota