terça-feira, 8 de abril de 2014

XXVI - OPERAÇÕES AO NORTE EM MATA CERRADA

-FARDA OU FARDO?-
Rendido já o Batalhão no Serviço à Rede de Luanda e colocado às ordens do QG (Quartel General) como reforço, somos escalados para duas Operações na zona do Zenza do Itombe, área de mata serrada, selva plena. Numa dela, a primeira, marcham dois Grupos de Combate da minha Companhia, que entraram no terreno pelo lado norte, operação conjugada com outras Unidades quer de quadrícula quer especificamente deslocadas para lá para o efeito. Na segunda, passados uns quinze dias, já a nível de toda a Companhia, mas a entrada na selva fez-se, desta vez, pelo lado sul, oposto portanto à da primeira.
RIO ZENZA
MATANDO O TEMPO, NUM INTERVALO SENTADOS EM CUNHETES DE
DE MUNIÇÕES. RIACHOS O HOMEM DE PÉ, OPERADOR DE TRANSMISSÕES
,QUE RECENTEMENTE NOS DEIXOU, DEPOIS DE TER ALEGRADO MUITOS CONVÍVIOS PÓS-DESMOBILIZAÇÃO

Estas Operações Militares envolviam, por norma, grandes efetivos, de múltiplas áreas de ação e com objetivos diferentes no terreno: uns com função de nomadização, outros com tarefas de emboscadas e outros ainda para Golpes de Mão, ou seja, assaltos repentinos aos aquartelamentos do IN referenciados.

Chegados ao nosso destino – cada Companhia tinha o seu ponto de estacionamento -, instalámos, montámos segurança e pernoitámos, pois a ação conjugada só teria lugar ao alvorecer do dia seguinte.

Deito-me dentro do meu saco-cama, com a arma ao meu lado, junto a um barranco com um desnível brusco de cerca duns 7 metros, mas afastado da orla da mata aí uns bons 20 metros, a fim de me salvaguardar duma eventual visita inesperada noturna duma jiboia ou bicho semelhante. Estávamos em alerta máximo contra todos os perigos, quer do inimigo humano quer animalesco. Adormeci quase de imediato, mas havia pessoal de vigia permanente. Passado um tempo que eu julguei ser de pouquíssimas horas, mas, resultante do cansaço e do stress pelos riscos da viagem, o alvorecer já despontava. Subitamente, ouço, mesmo ao meu lado, dois rebentamentos estrondosos. Pensei: - “duas morteiradas estão a cair-nos em cima”. Pego na arma, fico na expectativa da evolução da situação e, de repente, ouço: “Fogo!”. Eram dois obuses do pessoal de Artilharia que chegou já depois de eu adormecer, instalados precisamente no topo do terreno ao qual eu me encontrava encostado. Eu não os vi chegar nem os vislumbrava agora. Só quando me pus de pé.

Selva completamente cerrada, a Artilharia estava a bombardear zonas previamente marcadas na Carta Militar a fim de obrigar o IN a deslocar-se para pontos onde se encontravam as NT emboscadas. Tática operacional normal.

Acabada a Operação, regressámos ao Grafanil, onde iríamos fazer os preparativos para uma nova grande viagem, agora até ao Leste de Angola.
                                                
Carlos Jorge Mota

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