quinta-feira, 10 de abril de 2014

XXVII - CAMINHADA PARA O LESTE

-FARDA OU FARDO?-
Com destino já programado para o Leste, mais propriamente para o Distrito do Moxico, abalámos numa manhã cedo dos princípios de setembro de 1970 para Nova Lisboa, pela estrada alcatroada utilizada normalmente pelo tráfego civil uma vez que fica fora de área de atuação do IN. Parámos novamente em Quibala para um ligeiro descanso durante o qual se almoçou a Ração de Combate, completa, pois sabia-se que à chegada à capital do Distrito do Huambo haveria uma ligeira refeição quente à nossa espera, sopa pelo menos, num dos Quartéis onde pernoitaríamos. Aproveitei para ir a um Quimbo (Mosseque) que estava muito próximo e tirar umas fotografias com gente nativa, muito afável e prestável.

MOENDO O PIRÃO
MACAQUINHO BRINCALHÃO



















Retomada a marcha e chegados à tardinha a Nova Lisboa, atestaram-se viaturas num dos Aquartelamentos na denominada Zona dos Quartéis, concretamente no R.I. 21, comemos uma sopinha quente e fomo-nos recolher pois o dia seguinte iria ser árduo.

Alvorada tocada, dirigimo-nos para a Estação de Caminho de Ferro de Nova Lisboa do CFB - Caminhos de Ferro de Benguela, que liga a Vila de Teixeira de Sousa, na fronteira com o Congo ex-Belga (Zaire), ao Porto de Benguela (e que tem continuação para o Porto do Lobito), e que é utilizado por aquele país para escoamento marítimo dos seus produtos daquela sua área geográfica, nomeadamente minérios. Na Estação tínhamos um Comboio Especial já à nossa disposição no qual carregámos as viaturas, pesadas e ligeiras, e todo o material que necessitávamos, incluindo armamento e munições – tarefa trabalhosa e bastante demorada.











A viagem até à localidade definitiva, cidade do Luso, no Moxico, nosso destino final, iria ser feita em duas fases, dado que uma Operação de alguns dias, na zona do Munhango, Distrito do Bié, estava já programada, envolvendo todo o Batalhão, com as suas Companhias dispersas por uma área alargada, na zona de atuação da UNITA, precisamente na localidade onde nasceu o seu Comandante-em-Chefe, Jonas Malheiro Savimbi, cuja captura, a concretizar-se, seria um troféu preponderante. O comboio habitualmente fazia todo o percurso precedido duma Draisine, um pequeno veículo, totalmente blindado, que também era usado para Serviço de Obras na via, mas que ali desempenhava a função de detetar a eventual colocação de minas ou armadilhas, situação muito pouco provável atendendo a que o próprio Zaire não estava interessado na desestabilização deste importante braço escoador marítimo das suas mercadorias e impunha as suas regras aos Movimentos de Guerrilha que apoiava (FNLA, no Norte, e UNITA, no Leste), bem como a própria Zâmbia, que apoiava o MPLA, e que também utilizava esta via ferroviária, atravessando previamente território zairense.

Decorridas umas 4 a 5 horas de viagem, com algumas paragens pelo meio, chegámos finalmente, já pelo fim da tarde, ao nosso destino provisório: Estação de Cangumbe, em cuja proximidade a nossa Companhia iria atuar em Operações, pelo que foi necessário efetuar todo o processo inverso, isto é, descarregar viaturas e material.

Mesmo junto à Estação existia um Aquartelamento das NT, fortemente guarnecido, que, enquanto permaneceu dia, e depois de findos todos os procedimentos, para liberação do Comboio, nos permitiu alguma descompressão na respetiva Cantina e beber umas cervejas, que o calor apertava.

 Carlos Jorge Mota

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