quinta-feira, 19 de maio de 2011

A COR DOS NOSSOS LENÇOS

A IMPORTÂNCIA DA COR DOS NOSSOS LENÇOS

Lembram-se daqueles lenços amarelos/alaranjados e que atados à volta do pescoço, também serviam para proteger o nariz e a boca da muita poeirada que apanhámos nos muitos quilómetros percorridos nas picadas de Angola?
Pois bem! Esses lenços foram importantes para nos distinguir de outros camaradas de outras companhias.
No decorrer do nosso penúltimo almoço convívio, no dia 8 de Maio de 2010 (de registar a coincidência de ser o dia do nosso embarque para Angola) o nosso Maior entre a sopa e o prato de peixe, por sinal um óptimo bacalhau (escreverei sempre à moda antiga), entre outras conversas, revelou-me um acontecimento, decerto por todos desconhecido e que na minha opinião merece ser aqui revelado.
Como sabem, após uns parcos dias do bem bom do Grafanil, partimos para as matas do rio Dange, onde fizemos parte da Operação Grande Salto. A nossa missão, nesta operação era efectuar protecção próxima e afastada à engenharia militar, que construía para além da ponte sobre aquele rio, seu fortim e respectivas estradas, principalmente entre a Fazenda M Manuela e M Fernanda. Por vezes também efectuávamos escoltas ao MVL entre estes locais.

Acampamento Dange

      

Operação








Foi junto a esta última fazenda, que mal chegados e ainda não instalados, no que seria o nosso acampamento provisório, que registámos um ferido e um morto, o saudoso M Tavares. Nesta operação estivemos sem qualquer contacto com populações de Junho a Dezembro de 1969. Após esta pequena introdução, voltamos então ao que me revelou o nosso Comandante de Companhia, pois nestes encontros será sempre “o nosso Cmdt de Cia”.
Em dada altura e se a memória não me atraiçoa, junto do comando do Batalhão dos “Centauros”, foi questionado se tinha feito algum pacto com o inimigo. Embora bastante surpreendido, respondeu logo que não.

Ponte Totobola

Fortim


Assim, foi-lhe explicado que nos mesmos locais, os homens do seu batalhão eram flagelados ou atacados, não acontecendo o mesmo aos da nossa companhia. Chegou a inverter as saídas, masmesmo assim passávamos sem qualquer contacto com o inimigo enquanto eles voltavam a ser flagelados ou atacados.

Pois! Existia qualquer coisa que distinguia os homens dos lenços amarelos/alaranjados dos restantes. O nosso C Cia sabe e em minha parca opinião, já anteriormente confessada em um ou outro almoço/convívio realizado, que todo o nosso saber mecanizado na instrução militar, na nossa capacidade de sacrifício e abnegação eram sempre em operacionalidade postos à prova. Apesar de todo o pessoal da Cia estar sempre muito sobrecarregado de múltiplos serviços, nunca descoraram a velha máxima “ serviço é serviço, conhaque é conhaque e meninas são meninas”.
Não sei o que se passava com outras unidades militares, mas a C Caç 2505, não era melhor nem pior, mas com certeza era diferente. Não quero inferiorizar mesmo as outras Cias do nosso Batalhão, mas a nossa era para mim a mais bem preparada, militar, psicológica e operacionalmente. Lembram-se? Mesmo numa pequena paragem na picada todos sabiam o muito importante que era a segurança próxima.
Por tudo isto e muito mais, os homens do lenço amarelo/alaranjado da C Caç 2505 nas matas do rio Dange, passavam quase sempre sem serem incomodados.

9 comentários:

  1. Recebi do nosso C Cia em 12-05-2011, o seguintecomentário:

    Carissimo Merca

    O resumo da pequena história que me enviou e muito lhe agradeço, corresponde a realidade e há muitas mais que tanto honram e dignificam a nossa tão especial ,corajosa e única Companhia que sempre soube estar no mais elevado nivel de disciplina, camaradagem, união, cooperação e operacionalidade que sempre manteve, com um tão elevado brilhantismo no desempenho das suas funções que,para alem do exemplo,ate conseguia despertar alguma inveja entre os demais.

    Aproveito esta oportunidade para o felicitar pela sua muito apreciada iniciativa em criar o nosso Blog ao qual desejo o maior sucesso.

    José Manuel A. Carrilho

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  2. A COR DOS NOSSOS LENCOS


    Obrigada a J.M. pela narração feita da nossa Cia no DANGE.Fazendo desta,com seu Comando uma companhia que fez com disciplina,coragem e elogio o seu dever.

    Mais uma vez OBRIGADA J.MERCA


    Antonio M Marques Mendes(transmissoes)

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  3. Estou de acordo com tudo o que o Merca disse.
    Com a memória de mais de 40 anos, só me recordo de a companhia ter sido atacada pelos guerrilheiros,três ou quatro vezes, talvez por sorte, talvez pela disciplina, ou talvez pelas duas as juntas. No entanto existia em nós respeito por quem lutava do outro lado, recordo aqui dois exemplos de situações que aconteceram durante o período em que tive o privilégio de atuar como operacional:
    1º exemplo – Numa operação, no interior da mata, levávamos connosco um guia, que tinha sido guerrilheiro naquela zona, com a missão, de nos levar a um acampamento inimigo, claro que ele conhecia bem aquele terreno, mas enrolou-nos durante 3 dias, até que a certa altura verificámos que passávamos pelo mesmo sítio várias vezes, certamente não ficamos contentes, mas não exercemos sobre ele qualquer represália;
    2º exemplo – Numa outra operação, a certa altura, numa lavra encontramos alguns agricultores em fuga, por se terem apercebido da nossa presença, não sei se eram guerrilheiros, pois isso seria muito difícil de verificar. Nessa ocasião, fizemos prisioneira uma rapariga de 12 ou 13 anos que não conseguiu fugir, foi sempre por nós bem tratada e dividimos com ela alguns alimentos, conduzimo-la até ao nosso acampamento e de seguida para Luanda.
    Estas atitudes, distinguia-nos das outras companhias, que atuavam naquela zona, onde me foram exibidos testemunhos, que não vou aqui relatar, por não serem em nada abonatórios para a missão que lhes tinha sido confiada.
    Aqui, com certeza, os lenços, desempenhavam um papel fundamental, e tornava-nos diferentes.
    F. Santos

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  4. Penso haver um pouco de compreensível narcisismo considerarmos sempre a "nossa Companhia" como a mais bem preparada, sob o ponto de vista operacional ou outro, comparativamente às demais do Batalhão. Não se pode aferir nada pois os contextos de actuação foram diferentes. Lembro que numa operação no Zenza em que entrou a minha Companhia (2506), o último homem em progressão em bicha-de-pirilau sussurrou ao que ia na sua frente da presença dum guerrilheiro (MPLA) numa árvore. O dito apercebeu-se que fora detectado e abriu fogo de caçadeira sobre ambos, ferindo-os ligeiramente. Só que o Palaio foi também rápido e, com um único tiro, sem olhar a mira, abateu-o. Caído da árvore e embora ferido com alguma gravidade, depois de socorrido, ficou em condições de caminhar. A progressão continuou, com ele sob controlo, e pernoitou-se entretanto. Evacuado de manhã por héli para Luanda, após passagem para uma ilhota onde o héli pudesse descer, sem pouso. Chegados a Luanda houve sucessivas sessões de visita ao HM, principalmente de Graduados, e com ele foi estabelecida uma relação forte de amizade.
    Mais histórias ilustrariam que a diferença era nula, mas não é este o fórum apropriado para o demonstrar.
    Abraço a TODOS os Camaradas.

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    1. Caro Carlos Jorge

      Falámos telefonicamente no último sábado e entre outras coisas comentámos o presente testemunho e o teu comentário que muito agradecemos.
      Já tinha alinhavado umas linhas, não para responder ao teu comentário, mas para enquadrar devidamente o presente escrito.
      Claro que em todos nós, existe sempre mesmo no seu mínimo, um pouco de narcisismo. O que pretendíamos contar neste testemunho não era certificar que a minha Cia. era melhor que as outras, pois não tinha modo de comparação. Operacionalmente as Cias. do nosso Bat. Nunca estiveram juntas. A 2505 era o patinho feio da Bat., pela pouca simpatia do nosso Cmdt do Bat e o Cmdat da Cia. A questão coloca-se que nos seis meses que permanecemos nos Dembos tivemos raros contactos com o inimigo e esse facto deve-se sem dúvida ao não facilitar e à nossa actuação operacional no terreno. Na especialidade dos nossos homens por iniciativa do nosso capitão, (que como sabes era o mais velho do Bat. e já tinha comandado companhias), e talvez também por influência do Alf. Franco (Op Especiais) as fichas da instrução estavam bastante mais reforçadas em aplicação militar e operacionalidade.
      Como no texto afirmamos, não eramos melhores nem piores, mas claro que eramos diferentes.
      Recebe do deste teu grande amigo e irmão de armas
      Aquele Abraço
      JM

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  5. (1ª Parte)
    A Camaradagem de Combatente é um sentimento inigualável de amizade sublime, de pertença a um Grupo Especial, de necessidade de convívio entre si, de benevolência perante questiúnculas, por vezes até estéreis, e perdurará até ao fim das nossas vidas.
    Estas características únicas são uma chave-mestra que nos abre a porta para também, por vezes, mostrarmos, com total frontalidade, o nosso desagrado perante situações que se nos apresentam, prenhes de iniquidade, sem que isso abale minimamente o sentimento que nos une.
    Este intróito tem por fim veicular as várias manifestações de desagrado recebidas de Camaradas da Companhia 2506 (a minha Companhia), sobre a alusão de que a Companhia 2505 seria a mais bem preparada operacionalmente, matéria sobre a qual já escrevi acima.
    Talvez seja desconhecimento quase geral do pessoal das outras Companhias do Batalhão, ou esquecimento, de que toda a Companhia 2506, independentemente do posto que cada um detinha, recebeu um Treinamento Especial dado por Monitores dos Comandos, durante cerca de um mês, no Quartel daquela Tropa Especial e também na localidade de Funda, situada nas margens do Rio Bengo, onde se incluíram rastejamentos sob fogo real. O Monitor-Comandante era um indivíduo de feições asiáticas, que exibia medalhas de dotação física e resistência à sede.
    E porquê esta especial preparação? É que a Companhia esteve com avião pronto para embarcar para a Guiné, para operações, em que o pessoal apenas seria portador do armamento e respectivo equipamento. Felizmente para nós, à última da hora, houve alteração do plano pelos Altos Comandos.
    Será que se pode inferir que o Comando do Batalhão considerava a 2506 a mais bem preparada, tanto mais que a disponibilizou para reforço doutro Batalhão e em cuja viagem o próprio Comandante se empenhou, integrando-a? Mandaria ele uma Companhia menos bem preparada para zona que, à partida, sugeria ser fortemente operacional?
    Deixo ao cuidado de cada Camarada tirar as conclusões que lhe aprouver, na certeza, porém, de que nada se pode aferir quando os contextos são diferentes.
    Não nos considerámos nunca, à época, melhores que ninguém, mas também não aceitamos que alguém desconsidere a nossa valência colocando-se na primeira fila.
    UM ABRAÇO DE PLENA CAMARADAGEM. E viva o Batalhão de Caçadores 2872.

    ...

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  6. (2ª Parte)
    Comentário do Temudo, que não sabe ainda trabalhar com a quadrícula “Comentários de Blogues”: Reforço ao Comentário do Camarada Mota:

    Eu estive lá! Foi um período de instrução muito intenso, rigoroso e com exercícios de fogo real.
    Aliás, sobre essa Formação/Comandos, poderemos ouvir do nosso Comandante de Companhia, Capitão Reis Santana, as palavras proferidas durante a Primeira Confraternização da Companhia 2506, realizada pelo Mota, em Coimbra. O vídeo (o primeiro) pode ser visto no Blogue da Companhia. Assim, a partir do minuto 14:15, poderemos ver e ouvir o Capitão Santana:
    Citação "Chegámos e desembarcámos em Angola... Alguns de vocês, senão a maioria, foram aos Comandos aprender a combater para quando de lá saíssemos, na guerra não viéssemos a ter desgostos... E não os tivemos... A sorte esteve do nosso lado... Nós não éramos Comandos, mas fomos preparados por eles... Vocês lembram-se do tempo em que estivemos nos Comandos... O que eles nos ensinaram... A maneira como combatiam... A maneira como se protegiam... A maneira como actuavam.” Fim de Citação.



    Msg remetida pelo Oliveira, então 1º Cabo Enfermeiro:
    É verdade, a nossa C. 2506 "estagiou", durante 1 mês e mais uns dias, nos Comandos de Luanda, onde a instrução foi dada pelo Sargento/Comando (fisionomia/asiática, Macau?)
    Orgulhava-se de ter as medalhas de resistência à água e física.
    Será que mais ninguém se recorda disso?
    Outro pormenor: antes de partirmos para a Coutada do Mucusso, estivemos para arrancar para Guiné.
    O avião já estava pronto na Base Aérea. Só poderíamos levar as armas e sacos de campanha.
    Há relatos dessa crítica situação, que se passou na Guiné em meados de 1969.
    Felizmente para nós não foi necessário e de seguida partimos para a Coutada.
    Assim, ficamos adidos ao Batalhão 2870, que estava em Serpa Pinto, Capital de Distrito.
    Pessoalmente, tenho "boas" recordações em que fui "destacado" (fugiu-me o termo militar): Bloco Operatório do Hospital de Serpa Pinto.
    …/…

    Msg do Boavista, então Soldado-Condutor de Berliet:
    Recordo-me perfeitamente desse treino com os comandos, as datas não são o meu forte, mas ainda me recordo do rebentamento duma granada na nossa frente e bastante fogo, penso que era real, mas não me recordo em que viaturas fomos transportados, se de Berliets se de Unimogues.
    __________________________________________________________________________
    Msg do Joaquim Costa: Ex-1º Cabo de Armas Pesadas:
    Sim, é certo que tivemos treino com os comandos que tinham quartel no Cazenga, extensivo a Oficiais, Capitão incluído, Furriéis e Cabos da 2506. O treino que recebi foi no Quartel e no mato, e tenho uma história: estava com paludismo e disse ao Sargento-Instrutor que não aguentava por causa da febre. Resposta: “aqui não há lugar para doentes”, e lá aguentei.

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  7. Amigo Merca!

    Admiro como lidas com a diferença de opinião, aliás outra coisa não esperaria de ti.

    Mostraste que este é um espaço livre e aberto, onde o pensamento de cada um, tem o seu lugar, dentro da sã camaradagem.

    Um forte abraço!
    FS

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  8. Mas... era expectável outra postura? Isso seria Censura.
    Amigos e Camaradas desde Abrantes (que já não é Quartel-General) ou até de antes!

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